Entre la confianza y la transformación: modalidades de intervención social sobre la niñez en riesgo en el marco de la protección integral de derechos en Argentina

Abstract

Este trabajo se desprende de una investigación orientada a la comprensión de las actuales modalidades de intervención social sobre la niñez en riesgo, dentro de la denominada protección de la infancia, desde el enfoque de derechos, en Argentina. Busco comprender dichas modalidades de intervención, al centrarme en las actuaciones de los agentes institucionales de un organismo estatal de protección de derechos de la infancia, en una localidad bonaerense de rango medio. El material aquí presentado es resultado de una aproximación etnográfica y narrativa a las actuaciones desplegadas por dichos agentes sobre las familias con las cuales interactúan, con el fin de acceder a los esquemas de significación que las enmarcan. Realicé mi trabajo de campo, durante el año 2018, a partir de una estadía de cinco meses en el organismo estatal, haciendo uso de la observación participante como principal técnica de investigación. Argumento que la confianza que permea el vínculo entre agentes estatales y familias destinatarias de las intervenciones es concebida como valor moral vehiculizador del trabajo aleccionador realizado, funda-mentalmente, sobre mujeres-madres. Esta característica no flexibiliza, sino que refunda la asimetría propia de la relación, estilizando mecanismos de control y vigilancia. A su vez, las familias hacen uso de la retórica institucional disponible, como modo de traducir su experiencia social al lenguaje de los derechos, ofreciendo así la transformación esperada. Este trabajo muestra elmodo en que los actuales formatos de intervención sobre la infancia y sus familias incorporan novedosos elementos como la confianza y el afecto que, sin embargo, se traman con perdurables mecanismos de poder propios de la dimensión tutelar del Estado. Asimismo, problematiza el lugar de las familias en la interacción con agentes estatales para permitir una comprensión de suaccionar a partir del uso y apropiación del lenguaje de los derechos.

This paper is part of a study intended to elucidate the current modalities of social intervention on children at risk in Argentina, as part of what is known as child protection and from a rights-based approach. I attempt to comprehend these modalities of intervention by focusing on the actions of the institutional agents of a state organism for the protection of children’s rights in a mid-range area of Buenos Aires. The material presented here stems from an ethnographic and narrative approach to the actions carried out by these agents in relation to the families with which they interact, in order to access some of the significant schemes that frame them. I conducted my fieldwork in 2018, during a fivemonth internship in the organization, using participant observation as the main research technique.I argue that the trust that permeates the bond between state agents and the families targeted by the interventions is conceived as a moral value that conveys the instructive work carried out, fundamentally, on womenmothers. This characteristic does not serve to make relationships more flexible, but rather reestablishes itself to stylize control and surveillance mechanisms. At the same time, families make use of available institutional rhetoric as a way of translating their social experience into the language of rights, thus effecting the expected transformation. This work shows how current models of intervention involving children and their families incorporate new elements such as trust and affection, which, however, are woven with enduring power mechanisms typical of the scope of the state’s protective services. It also discusses the place of families in the interaction with state agents to enable an understanding of their actions based on the use and appropriation of the language of rights.

Este trabalho deriva de uma pesquisa orientada à compreensão das atuais modalidades de intervenção social sobre a infância em risco, no âmbito da denominada “proteção da infância” e sob a abordagem de direitos, na Argentina. Pretendo compreender essas modalidades de intervenção ao me focar nas ações dos agentes institucionais de um órgão estatal de proteção de direitos da criança, em uma localidade bonaerense de classe média. O mate-rial apresentado é resultado de uma aproximação etnográfica e narrativa das ações desenvolvidas por esses agentes sobre as famílias com as quais interagem a fim de ter acesso aos esquemas de significação que as delimitam. Realizei meu trabalho de campo durante 2018, a partir de uma estada de cinco meses na organização estatal, fazendo uso da observação participante como prin-cipal técnica de pesquisa. Argumento que a confiança que permeia o vínculo entre agentes estatais e famílias destinatárias das intervenções é concebida como valor moral mobilizador do trabalho disciplinar realizado, fundamen-talmente, sobre mulheres-mães. Essa característica não flexibiliza, mas sim remodela a assimetria própria da relação, estilizando mecanismos de controle e vigilância. Por sua vez, as famílias fazem uso da retórica institucional dispo-nível, como modo de traduzir sua experiência social para a linguagem dos direitos, oferecendo assim a transformação esperada. Este trabalho mostra o modo em que os atuais modelos de intervenção sobre a infância e suas famí-lias incorporam novos elementos como a confiança e o afeto que, contudo, são estruturados com perduráveis mecanismos de poder próprios da dimensão tutelar do Estado. Além disso, problematiza o lugar das famílias na interação com agentes estatais para permitir uma compreensão de seu agir a partir do uso e da apropriação da linguagem dos direitos.