A cidade e a villa: vida intelectual e representações urbanas

Abstract

Em março de 1964, a revista milanesa Casabella dedicou o número a Buenos Aires, com uma capa expressiva das representações que a capital argentina então gerava. Trata-se de uma montagem onde as linhas sintéticas do plano para a cidade, realizado em 1938 por Le Corbusier (com Juan Kurchan e Jorge Ferrari Hardoy), se justapõem, em cor berrante, à fotografía em branco e preto de uma cena cotidiana em uma villa miseria: a modernidade abstrata di plano contra o neorrealismo da villa. Uma das chaves da montagem encontra-se no prólogo do jovem Aldo Rossi -membro de Casabella- ao dossiê: "Entre as majestosas avenidas da cidade burguesa e a extensão indiferenciada das villas miseria, parece impossível preencher as brechas". É a denúncia de Buenos Aires como cidade dual, traço estructural da urbanização do subdesenvolvimento que vinha sendo observado há uma década, quando na América Latina começam a ser realizados estudos sistemáticos sobre o surgimento desses assentamentos precários em suas principais cidades -e que permitia distingui-los dos casebres simulares vistos nas cidades europeias, sobretudo na Itália.