Da “profissão” à “carreira”: o caso dos executivos das transnacionais

Abstract

A partir de trabalho de campo realizado junto a executivos de corporações transnacionais, exploramos a hipótese de que, nos últimos anos, tem acontecido um deslocamento valorativo que leva do paradigma da 'profissão' para o da 'carreira'. Isso ocorre nas grandes corporações quando o trabalho se torna 'pós-profissional' –isto é, quando o trabalho efetivo das pessoas tem cada vez menos a ver com a profissão na que se formaram– e o que é incentivado é o desenvolvimento da carreira. Dessa forma, parece que nos afastamos cada vez mais da noção weberiana de profissão como vocação, e do sentido de profissão ligado a um corpus formal de conhecimentos e a um princípio metódico de viver. O “homem vocacional” (“o profissional”) seria substituído assim por uma sorte de 'empresário de sua própria carreira' cuja missão passaria a ser o cuidado desta como se fosse uma empresa. Ele deve constantemente 'agregar valor' à sua carreira --e para isto precisa fazer os investimentos necessários--, e 'orientá-la para resultados'. Contudo, cada vez é mais difícil diferenciar a forma em que gerencia a sua carreira da forma em que gerencia a sua própria vida: a 'carreira-vida' de cada indivíduo torna-se assim uma empresa a ser cuidada segundo as regras do capital.