Testemunho, escuta e reparação: Algumas reflexões a partir do trabalho com sobreviventes de centros clandestinos de detenção em Córdoba, Argentina

Abstract

Neste artigo analiso as noções de verdade, justiça e reparação e sua relação com o testemunho como ato de fala e memória, como artefato de reconstrução do mundo em situações-limite como as vividas pelos sobreviventes dos centros clandestinos de detenção durante a ditadura argentina (1976-1983). Assim, em primeiro lugar, traçarei uma breve genealogia dos termos que compõem o que hoje entendemos como Justiça de Transição, colocando-os em um devir relacionado a contextos históricos concretos. Paralelamente, analisarei os valores, práticas e representações que foram postos em jogo nos momentos de acertar as contas com passados autoritários e refundar comunidade(s) específica(s) e sua tensão com o cenário global. A seguir, analisarei especificamente as políticas de memória, verdade, justiça e reparação no contexto argentino e suas consequências na gênese dos contextos de enunciação que enquadraram os testemunhos sobre os crimes cometidos durante a ditadura. Por fim, enfocarei a microescala de uma experiência de campo como membro da equipe de pesquisa do Espaço para a Memória e a Promoção dos Direitos Humanos La Perla (Córdoba-Argentina) e o trabalho com sobreviventes do Centro Clandestino homônimo.